- Eu não acredito!
Foi a primeira coisa que Amanda falou,
assim que entrou na sala do apartamento de Laura. Largou a mala de rodinhas que
puxava e praticamente correu em direção à Jukebox
que a deixara extasiada:
- Isso é demais!
Coube a Elaine abraçar e beijar Laura e
Michelle e tentar desculpá-la:
- Juro que normalmente ela é bem mais
educada.
Juliana entrou logo depois da mãe e também
cumprimentou as duas antes de falar, de um jeito absolutamente bem-humorado:
- Quem não surtaria ao ter seu maior sonho
realizado?
Inteiramente alheia ao que acontecia a seu
redor, Amanda permaneceu alguns minutos debruçada sobre a máquina. Teria continuado
muito mais tempo ali, se a mãe não a chamasse. Só então caiu em si. Virou-se completamente
vexada:
- Desculpem... Me empolguei.
Elaine caminhou até a filha e passou o
braço protetoramente ao redor dela, pronta como sempre para salvá-la:
- Amanda sempre foi apaixonada por Jukebox. Desde pequenininha.
Pelo sorriso de Michelle ao fechar a porta,
Laura sabia perfeitamente o que ela estava pensando: “eu te avisei”. No entanto,
sua própria paixão por Jukebox fazia
com que Laura compreendesse a reação deslumbrada da menina e a relevasse, a
ponto de sugerir:
- Quer colocar uma música?
A empolgação fez a voz de Amanda soar um
tom acima:
- Posso?
Laura sorriu:
- Sinta-se em casa.
Não havia nada de formal na frase, muito
pelo contrário. Foi com total sinceridade que falou. A mesma com que Amanda
recebeu e retornou a generosidade daquela acolhida:
- Obrigada.
Os olhos se encontraram e cintilaram um
reconhecimento muito além das palavras.
- Amanda, minha filha, não é melhor
conhecer o resto do apartamento primeiro? Ver onde vai ser o seu quarto e
colocar as suas coisas lá?
O desapontamento de Amanda estava explícito,
em sua cara. Bem como a impossibilidade de contrariar a mãe. Desta vez foi
Michelle a socorrê-la:
- Enquanto a Amanda escolhe uma música,
vamos tomar algo? Um café, um chá, um suco, uma água?
Fez um gesto para que Elaine a acompanhasse.
Juliana se juntou à irmã gêmea em frente à Jukebox e Laura ficou um
instante observando as duas.
Ao ver os títulos das músicas, Juliana fez
uma expressão quase de horror:
- Só tem velharia!
Amanda retrucou do alto da superioridade
que os minutos que a faziam mais velha lhe conferiam:
- Velharia não, clássicos! A maioria dos
anos 70! - completou com um brilho de pura felicidade nos olhos.
A gêmea caçula replicou com uma implicância
afetuosa e cúmplice:
- Nossa, não poderia ser mais perfeito...
Pra você, sua esquisitinha!
O diálogo fez Laura sorrir, num misto de
carinho e melancolia. Sim, elas tinham crescido, tanto que lhe pareciam quase
desconhecidas. Ao contrário de quando eram crianças, pouco sabia sobre elas ou
do que gostavam. Muito menos o tipo de pessoas que haviam se tornado. A única
informação que possuía era aparente e, portanto, superficial: o quanto fisicamente
ambas lembravam... Na verdade, eram quase iguais à Elaine naquela idade.
Afastou rapidamente a nostalgia que ameaçou
tomá-la antes de virar-se em direção a cozinha, onde Michelle e Elaine estavam.
Assim que cruzou a soleira da porta,
deparou-se com Elaine num banco alto, sentada sobre uma das pernas como lhe era
de hábito. Nada demais. Se, ironicamente, a música escolhida por Amanda não começasse
a tocar.
No matter what you are, I will always be
with you. Cause no matter what you do, girl. Oh girl, with you.
Ecoando um sentimento que julgava
devidamente extinto, mas que naquele momento pareceu voltar a assombrá-la. O
inferno de serem tão próximas, mas não como desejava. Vê-la dia após dia, sem
poder tê-la. Durante anos e anos, primeiro sem saber ao certo do que se
tratava. Quando finalmente soube, mais alguns anos sem querer admitir, sem ser
capaz de confessar nem para si mesma. Tinha tentado, com inúmeros ficantes e
namorados, disfarçar, impedir que sequer desconfiassem o que não deveria nem
jamais poderia sentir pela melhor amiga. Uma espécie de amor que na época
julgava impossível. Mais do que isso, sórdido e condenável.
Uma fase de sua vida que, assim como a emoção
trazida pela música, não passava de uma cicatriz, uma névoa, um fantasma do
passado. Completamente fora de sua atual realidade. Foi o que Laura repetiu
para si mesma, tentando transformar a mágoa em convicção e a incerteza em verdade.
A voz de Michelle a trouxe de volta:
- O que você quer, meu amor?
Sorriu para a companheira:
- O que vocês estão tomando?
Foi Elaine quem respondeu:
- Um chá gelado. Delicioso, por sinal. Você
precisa me passar a receita, Mi.
Desviando a atenção de Michelle para si:
- É bem fácil. Vou te passar pelo whats.
Laura acompanhou o diálogo leve e
corriqueiro entre as duas com uma impressão de surrealidade:
- Ele emagrece, será?
- Talvez, quem sabe? Me achou mais magra?
- Pra dizer a verdade, achei sim. Você e a
Laura.
- Ah, então não é o chá, porque a Laura
nunca toma.
- Ela continua detestando chá e mate? E eu
que pensei que o gosto das pessoas melhorasse com a idade...
No matter what you do I will always be
around. Won't you tell me what you found, girl? Oh girl, want you.
Lançou um olhar absolutamente implicante
para Laura, que engoliu a resposta que tinha na ponta da língua: “se melhorasse
você não continuaria casada com o Ricardo”. Ao invés disso, passou os braços
redor de Michelle e puxou-a para si. Soprou baixinho, antes de beijá-la nos lábios:
- Acha que eu preciso melhorar?
Recebeu a resposta logo depois, no mesmo
tom que havia falado. Em seu ouvido, para que só ela escutasse:
- Está perfeita do jeito que está.
Arrepiou inteira e voltou a beijá-la, desta
vez com uma veemência ainda mais inflamada, aquela que as duas décadas juntas só
tinha aumentado.
Quando as bocas se separaram e afastou-se,
deparou-se com o olhar de Elaine fixo nela, com uma intensidade que não
conseguiu entender, traduzir, muito menos decifrar.
***
Amanda escolheu a música e a colocou para
tocar apenas para, menos de um segundo depois, se arrepender. Pois foi
impossível ouvi-la sem pensar em Rafaela. Na mesma hora, a alegria causada pela
Jukebox se dissipou completamente.
Tentou disfarçar, mas a irmã a conhecia bem demais:
- Não fica assim. Vamos lá, levanta essa cabeça!
O sorriso não impediu que algumas lágrimas
escorressem. Afirmou muito mais para si mesma:
- Eu vou ficar bem.
Com as mãos de Amanda entre as dela, Juliana
a apoiou incondicionalmente, como sempre fazia:
- Tenho certeza.
Num ímpeto, Amanda agarrou-se à irmã, extravasando
o que estava sentindo:
- Vou morrer de saudade de você!
Nunca haviam se separado tão em definitivo.
Juliana a abraçou com a mesma impressão de perda irreversível:
- Eu também!
Levando Amanda a protestar:
- Você tinha que vir comigo, sua besta!
Juliana respondeu à altura:
- Vou continuar no conforto e na mordomia
da casa da mamãe e do papai, vou ter um carro só meu, e a besta sou eu?
Obteve o efeito desejado. Amanda riu, junto
com ela. Mas não demorou para que ficasse novamente séria:
- Estou com medo de não ter feito a escolha
certa.
Apenas para ouvir o que já sabia que Juliana
iria dizer:
- Você pode voltar pra casa a hora que
quiser. Mas te conheço, irmãzinha. Tenho certeza que não vai se arrepender. Rio do Sul é pequena demais pra você.
O olhar absolutamente inseguro que recebeu
da irmã a fez completar:
- Aqui você vai poder escancarar o seu armário
sem medo.
Amanda deixou escapar um suspiro:
- Que graça tem escancarar um armário vazio?
De forma tão dramática que Juliana riu antes
de sugerir:
- Quem sabe a Laura e a Michelle te
apresentam alguém?
Nem a provocação foi capaz de tirá-la do
estado de melancolia em que se encontrava:
- Ah, Ju, eu não sei se...
Juliana sequer cogitou a hipótese de o
protesto ter a ver com idade. Amanda sempre tinha se interessado por mulheres
mais velhas, a própria Rafaela tinha vinte e oito anos, dez a mais que elas.
Sabia perfeitamente do que se tratava:
- Não me venha com essa conversinha de “eu
nunca mais vou amar outra pessoa na vida”, porque ninguém merece!
Neste exato momento, Elaine entrou na sala,
seguida por Laura e... Michelle:
- E então, Amanda? Pronta pra sua nova vida?
***
Somente depois de mil e uma recomendações,
abraços, beijos e lágrimas, Elaine foi embora com Juliana. Laura fechou a porta
do apartamento atrás de si com a última frase da amiga antes de entrar no carro
reboando em seus ouvidos:
- Estou confiando meu bem mais precioso a
você. Por favor, cuide dela como se a filha fosse sua.
Virou-se para Michelle e Amanda
demonstrando uma alegria e animação em que absolutamente não estava:
- Que tal uma pizza?
Michelle perguntou diretamente para Amanda:
- Quer ir numa pizzaria?
Apenas para evidenciar o que já intuía:
- Na verdade, eu estou um pouco cansada.
Laura já tinha a solução pronta:
- Tudo bem. Podemos pedir.
Na verdade, o alívio que sentiu não poderia
ser maior, pois não estava com a menor vontade de sair de casa.
Completamente constrangida, Amanda foi
polida:
- Não precisam se incomodar por minha casa.
Laura tentou deixá-la mais confortável:
- Incômodo algum.
Michelle mostrou o caminho:
- Nós vamos pedir pizza de qualquer jeito,
sabe por quê?
Falaram juntas, para espanto de Amanda:
- Porque hoje é sábado!
Depois riram, deixando-a perdida, sem
entender nada e ainda mais sem graça. Percebendo a confusão da garota, Laura
explicou:
- É de uma poesia. “O dia da Criação” de
Vinícius de Moraes.
Totalmente arrependida por tê-la deixado de
fora da piadinha particular. Algo que para elas era rotina, mas agora havia uma
pessoa a mais a ser considerada. Uma pessoa de outra geração, com outros
referenciais e que mal conheciam. Não ia ser fácil.
“Já começamos mal.”
A simpatia de Michelle salvou-as, como de
hábito:
- Pobre de você, Amanda, convivendo com
duas velhas cheias de manias... Vai acabar se acostumando, acho.
Laura aproveitou para pegar o folder da
pizzaria:
- Podemos pedir três sabores.
Entregou-o para Michelle, que o estendeu
para Amanda com o mais encantador dos sorrisos:
- Escolhe um.
Amanda tentou recusar:
- Acho melhor vocês escolherem...
Amanda nunca tinha sido o tipo de pessoa
que não sabe o que quer ou que tem dificuldade em fazer escolhas. Não era esse
o problema. Se estivesse em casa, provavelmente seria a primeira a dizer o
sabor que preferia. Mas ali era diferente, não tinha intimidade nem se sentia à
vontade para escolher o que quer que fosse.
Isso era notório para as três. Entretanto,
Laura queria que isso se revolvesse o mais rápido possível. Não só para cumprir
o que prometera à Elaine, mas porque realmente queria que Amanda se sentisse
bem:
- Pedimos sempre os mesmos. - apontou para
si mesma: - Vegetariana. - e depois para Michelle: - Alho e óleo. O terceiro
nós sempre alternamos e toda vez é um parto pra decidir.
De um jeito tão engraçado que fez Amanda
rir sem nem sentir. O sorriso persistiu em seu rosto quando Michelle completou
o pensamento e a fala de Laura, de um modo que Amanda já tinha reparado que as
duas sempre faziam:
- Você vai nos poupar horas e horas de debate.
Só então Laura lembrou de perguntar:
- Você gosta de pizza vegetariana e de alho
e óleo?
A resposta foi imediata, sem hesitação
alguma:
- Sim.
Mesmo assim, Michelle fez questão de
confirmar:
- Mesmo?
Amanda voltou a rir:
- Mesmo.
Não perdeu tempo olhando para o cardápio,
também tinha um sabor preferido:
- Portuguesa.
Afirmou com firmeza, toda a tensão e o
acanhamento anteriores diluídos.
- Fechou.
- Já é.
Não conseguiu perceber quem disse o que, a impressão
que tinha era que Michelle e Laura eram só uma. Pensamento que a fez olhar para
as duas com um misto de admiração, inveja, curiosidade e... Algo mais, que não teve coragem de tentar
definir.
***
Amanda não estava com sono algum. Mesmo
assim foi para o quarto. Precisava ficar um pouco sozinha e não queria impor
sua presença mais do que o necessário, muito menos tirar a privacidade de
Michelle e Laura.
Atirou-se na cama sem descalçar as sapatilhas
e, munida do celular, foi diretamente atrás de Rafaela. Mas não havia nada,
nenhuma postagem nova desde a última vez que acessara, enquanto comia pizza
alguns minutos atrás.
Estava olhando um vídeo no Youtube quando a aba da parte superior
da tela do aparelho abriu, avisando que tinha recebido uma mensagem da irmã no Whatsapp: “Tá fazendo o q?”
Respondeu com uma mensagem de voz:
- Nada. Só deitada na minha nova cama no
meu novo quarto.
A réplica também veio em áudio:
- Tá trancada no quarto? Por quê? Medo de
ver o que não deve?
Impossível não rir junto com as risadas
gravadas pela irmã:
- Elas nem se beijam na minha frente.
Menos de um segundo depois, entrou uma ligação
de Juliana. Assim que Amanda aceitou, a irmã disparou:
- Como assim? Mas elas não sabem que você
sabe? E elas não sabem que você também é?
A conversa fluiu fácil:
- Saber é uma coisa. Ver é outra.
- Juro que não entendo.
- Como estão as coisas aí?
- A mãe chorou a volta inteira, parecia que
vinha de um enterro.
- E o pai?
- Não choraria na minha frente nem se você
tivesse morrido mesmo, mas tá com cara de enterro também. Deve ser estranho me
olhar e não te ver.
Ficaram em silêncio, cada uma com seus
pensamentos. Foi Amanda quem voltou a falar primeiro:
- Ai, que louco isso que você falou!
Juliana riu:
- Cara, louco seria se eu fizesse igual naquele
seriado... Como é o nome mesmo? Aquele
que o psicopata coloca um espelho no lugar da cara do boneco depois que o irmão
gêmeo dele morre.
- Não lembro o nome, mas sei qual é.
O tom de Juliana mudou, se tornou
subitamente sério:
- Amanda...
- Uhm?
- Essa casa tá muito vazia sem você.
Deixou escapar um suspiro. Amanda suspirou
também:
- Também estou sentindo falta de vocês.
Assustou-se com o grito de Juliana:
- The Following!
- Quê?
- O nome do seriado. Lembrei.
Voltaram a rir. A ligação caiu, interrompendo-as.
Amanda aproveitou para digitar: “to cansada, vou dormir, nos falamos amanhã?”
Como resposta, recebeu uma carinha sorrindo,
uma mãozinha com o polegar levantado, uma carinha piscando, três carinhas soprando
beijo de coração e vários corações vermelhos. Mandou os mesmos emojis de volta antes de colocar o
celular na mesinha de cabeceira ao lado da cama.
Sentiu sede e lembrou que tinha esquecido
de encher a garrafa de água, como sempre fazia antes de ir dormir. Ainda estava
dentro da mochila, completamente vazia por causa da viagem de Rio do Sul a
Florianópolis.
Assim que abriu a porta do quarto ouviu a
música que vinha da sala e pensou em desistir da água. Entretanto, uma
curiosidade irresistível a impeliu, impulsionando-a a avançar. Deu os primeiros
passos com cuidado para não tropeçar na escuridão desconhecida do corredor e
então parou ao deparar-se com Laura e Michelle dançando e se beijando na sala.
***
Quando Laura saiu do banho, todas as luzes do
apartamento estavam apagadas. Foi o som que a chamou, de forma inexorável. Sem
precisar da visão para guiá-la, seguiu a música que tocava, vinda da Jukebox - cuja luz conferia uma penumbra
colorida à sala. Na frente do aparelho, com um copo de uísque na mão, Michelle
movia o corpo sensualmente, de olhos fechados.
I believe in you. You know the door to my
very soul. You're the light in my deepest darkest hour. You're my saviour when
I fall.
Em qualquer outra ocasião, Laura colaria o
corpo no dela e a acompanharia, sem hesitar. Mas não estavam vivendo uma situação
normal. Aproximou-se o suficiente para perguntar num volume baixo voz:
- Onde está a Amanda?
Michelle olhou para ela com um sorriso que
não deixava margem para erro:
- Foi dormir.
Puxou Laura para si e beijou-a, de forma
absolutamente apaixonada. De início, Laura correspondeu integralmente,
exatamente como Michelle esperava. Apenas para, logo depois, recuar, com uma
preocupação exagerada:
- E se ela sair do quarto? Pra ir ao
banheiro, ou tomar uma água?
Foi cortada com a mais sedutora suavidade:
- Estou beijando a minha mulher na minha
sala. Nada demais. Com certeza ela já viu coisas muito mais explícitas. E com a
idade que tem, fez também, claro!
Com uma rapidez assustadora, as imagens
ameaçaram se formar na mente de Laura, que as afastou antes que realmente se
materializassem:
- Prefiro não pensar nisso.
A primeira reação de Michelle foi rir,
achando graça no repentino e inédito surto de moralismo de Laura. A segunda foi
colocar o copo na mão dela e enlaçá-la pelo pescoço:
- Meu amor... Relaxa...
Fez uma pausa antes de completar:
- É ela que tem que se adaptar à nossa
rotina e não o contrário.
Cause we're living in a world of fools breaking
us down. When they all should let us be. We belong to you and me.
Laura livrou-se do copo, depositando-o no móvel
mais próximo:
- Tem razão.
Abraçou Michelle pela cintura e encostou o
rosto no dela, o contato fazendo-a deixar escapar um suspiro. Com o bom humor delicioso
que lhe era peculiar, Michelle disse:
- Eu sempre tenho.
O riso que compartilharam pontuou o momento
em que começaram a se mover juntas, seguindo o compasso da música.
And it's me you need to show how deep is
your love. How deep is your love, how deep is your love?
Os lábios voltaram a se buscar, fazendo com
que perdessem a percepção do resto do mundo. Sequer notaram que não estavam mais
sozinhas na sala.
***
Presenciar a intimidade das duas despertou
em Amanda um sentimento fortíssimo, impossível de evitar. Com uma leve pontinha
de despeito e tristeza por não ter alguém com quem compartilhar um momento como
aquele e, ao mesmo tempo, embevecida e excitada com a beleza sem igual da cena,
não foi capaz de sair dali, queria ver, precisava olhar. Até o fim.
Foi muito mais breve do que esperava, pois
quando as carícias começaram a se intensificar, Michelle sussurrou algo no
ouvido de Laura, que assentiu com um aceno de cabeça antes das duas se afastarem.
Deveria ter se virado e voltado para o
quarto naquele momento, enquanto Laura desligava a Jukebox e Michelle a esperava, mas não o fez. Seus pés pareciam
grudados ao chão. Quando finalmente se moveu, era tarde demais, elas já a tinham
visto.
***
Michelle não precisou falar duas vezes.
Aquele “vamos para o quarto?” sussurrado no ouvido num tom muito mais de
exigência do que de convite não permitia uma reação diversa da que teve: Laura concordou
e desligou a Jukebox, para atendê-la
o mais rápido possível.
Antes que pudesse pegá-la pela mão ouviu
Michelle perguntar:
- Nós acordamos você?
Não conseguiu enxergar Amanda, apenas ouviu
a voz dela no breu:
- Não, eu só levantei pra pegar água.
Algo no jeito que ela falou, ou talvez o
suave tremor entre as primeiras palavras, fez Laura ter certeza de que ela já
estava ali há algum tempo. Com a mão unida à de Michelle, a fez caminhar com
ela enquanto informava:
- Tem um interruptor aqui, do lado da porta
do seu quarto.
Acendeu, para mostrar o lugar exato, antes
de completar:
- E outro na parede ao lado da porta da
cozinha à esquerda.
Amanda sorriu sem conseguir disfarçar o
quanto estava embaraçada:
- Obrigada.
O tom de Michelle foi quase maternal:
- Boa noite, querida.
Fez Amanda sorrir:
- Boa noite.
Laura também desejou, mas de um
jeito bem diferente. Quase com formalidade:
- Boa noite.
Antes de entrar no quarto com Michelle e
fechar a porta.
OBSERVAÇÃO SUPER IMPORTANTE:
O livro não está completo aqui no site, disponibilizamos apenas os três primeiros capítulos para degustação.